PARA JÁ, CHIVUKUVUKU JUNTA-SE AO FOLCLORE

O Presidente angolano, João Lourenço, nomeou o líder do recém-legalizado partido PRA-JA Servir Angola, Abel Chivukuvuku, como conselheiro da República, por existir uma vacatura, segundo uma nota divulgada na página de Facebook da presidência angolana.

Este órgão colegial consultivo (folclórico) do Chefe de Estado integra a Vice-Presidente da República, a presidente da Assembleia Nacional, o Procurador-Geral da República, os líderes dos partidos políticos com assento parlamentar, a vice-presidente do MPLA e entidades da sociedade civil, como o jornalista Ismael Mateus, recentemente falecido.

Abel Chivukuvuku, ex-militante da UNITA (maior partido da oposição que, a muito custo, o MPLA ainda permite em Angola) e presidente da coligação CASA-CE, da qual foi afastado em 2019, viu o Tribunal Constitucional dar (no cumprimento de ordens superiores do Presidente do MPLA) finalmente luz verde ao seu partido PRA-JA Servir Angola na semana passada, após vários anos de espera.

Abel Chivukuvuku integra também a Frente Patriótica Unida (FPU) uma plataforma cívica criada nas eleições gerais de 2022, liderada pela UNITA e coordenada por Adalberto da Costa Júnior, coadjuvado por Abel Chivukuvuku e pelo presidente do Bloco Democrático, Filomeno Vieira Lopes.

Na abertura do ano parlamentar, na quarta-feira o presidente da UNITA considerou que a legalização do PRA-JA Servir Angola teve motivações políticas, alegadamente para desestabilizar a Frente Patriótica Unida (FPU), garantindo que a plataforma da oposição “está estável”.

O Tribunal Constitucional (do MPLA) anunciou na semana passada a legalização do PRA-JA Servir Angola, uma decisão que pôs fim a um processo que se arrastava desde 2019, ano da apresentação do projecto, que acabou por ser rejeitado em 2020 pelo tribunal, obrigando a esperar quatro anos para nova tentativa de legalização.

O Conselho da República é aquele órgão folclórico que o MPLA usa para parecer que Angola é um Estado de Direito. Recorde-se, a título de exemplo, que em 2018 João Lourenço notificou o Conselho da República para comunicar aos conselheiros que as eleições autárquicas seriam em… 2020!

Adalberto da Costa Júnior negou que a legitimação o PRA-JA seja a “morte” da FPU, insistindo na tranquilidade no seio da plataforma, que elegeu 90 deputados em 2022: “Nós estamos tranquilos, o regime, com os seus programas, tem sempre um propósito: dividir para reinar, sempre foi assim, a história sempre nos provou e todos sabemos o que se passa no seio daquele partido, crise grave”.

Recentemente, em artigo publicado no Folha 8, Malundo Kudiqueba Paca afirma que “Abel Chivukuvuku é neste momento o político mais cobiçado em Angola. Ele está prestes a redefinir o cenário político angolano com uma nova estratégia: demarcar-se da linguagem radical que tem marcado alguns sectores da política nacional. Ao adoptar uma postura mais moderada e apostar no centro, ele pretende construir pontes em vez de trincheiras, atraindo uma base eleitoral mais ampla e diversificada”.

“A frase “na política não há adversários permanentes” encaixa-se perfeitamente na trajectória de Abel Chivukuvuku e na sua visão estratégica do jogo político. Ao longo dos anos, Chivukuvuku demonstrou uma habilidade única de superar divergências e construir pontes, mesmo com aqueles que, em algum momento, foram seus maiores opositores”, afirma Malundo Kudiqueba Paca, acrescentando que “Chivukuvuku, ex-membro da UNITA e agora líder do PRA-JA Servir Angola, compreende que a política é feita de momentos, oportunidades e interesses, e que as alianças são temporárias, mas os objectivos maiores permanecem. “A verdadeira política não se faz com inimigos eternos, mas com alianças estratégicas”, e essa tem sido uma das grandes marcas da sua actuação”.

O analista político diz que “Abel Chivukuvuku tem uma capacidade de transcender o partidarismo. Ele tem uma visão de Estado que vai além das disputas eleitorais e das diferenças ideológicas. Enquanto muitos políticos se perdem em jogos de poder, Chivukuvuku foca-se em construir pontes, e não muros”, considerando que “essa postura torna-o um nome viável para qualquer coligação governamental, seja qual for o partido vencedor das próximas eleições de 2027”.

A política é a arte de transformar dificuldades em oportunidades. Chivukuvuku tem demonstrado uma habilidade singular de navegar pelos mares turbulentos das alianças políticas. Com a recente legalização do PRA-JA Servir Angola, o veterano político não só conquistou uma vitória judicial, mas reafirmou a sua presença indispensável no cenário político nacional. Em 2027, ele não será mais uma alternativa: será uma necessidade”, afirma Malundo Kudiqueba Paca, acrescentando que Chivukuvuku passou a ser a partir deste agora o político angolano mais desejado e cobiçado pelos dois maiores partidos do país. Num cenário político em constante transformação, é raro encontrar líderes com a capacidade de se reinventarem e continuarem relevantes. Chivukuvuku já provou que é um sobrevivente político. Como ele mesmo uma vez insinuou, “a política não se faz com inimigos permanentes, mas com aliados estratégicos” – e em 2027, Abel Chivukuvuku será o aliado mais estratégico que qualquer governo pode ter.

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